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Caça aos TALENTOS

Escrito por admin -

Diante da dificuldade de encontrar novos profissionais no mercado, empresas investem em qualificação interna e atrativos para a retenção dos funcionários

Um pedido de demissão é sempre um transtorno para as empresas. Em primeiro lugar, pela ruptura no fluxo de trabalho interno, custos e impacto direto na produtividade. Segundo, pela sobrecarga aos demais membros da equipe, que acaba gerando insatisfação, fadiga e desentendimento entre os colaboradores. E, terceiro, pela complexidade de encontrar rapidamente um bom profissional no mercado para recompor o quadro de funcionários.

A escassez de talentos, ou dificuldade em encontrar os profissionais com as competências que as empresas precisam, chegou a 80% no Brasil, número acima da média global, que registrou o seu maior nível em 17 anos, atingindo 77%. Os números fazem parte de um relatório divulgado pela ManpowerGroup, uma das maiores empresas de recrutamento do mundo, elaborado com base em entrevistas com 39 mil empregadores em 41 países – no Brasil, foram 1.020 entrevistados.

Os números mostram que aproximadamente quatro entre cinco empregadores reportam dificuldade de preencher as vagas abertas. Entre os setores mais afetados pela falta de talentos estão os de bens de consumo, serviços, finanças, imobiliário, transporte, logística, automotivo e comunicação.

Para enfrentar a escassez de talentos, 82% dos empresários afirmaram que estão investindo no desenvolvimento dos seus colaboradores, suprindo as demandas internas com profissionais que já estão na casa e dispostos a crescer. No entanto, quase metade (49%) ainda alega que procura novos candidatos e 48% investem em novas tecnologiasque possam auxiliar na buscapor um melhor desempenho, em vez de contratar.

Outras formas de enfrentamento à escassez adotadas pelas companhias envolvem reter melhor os talentos (57% dos empregadoresplanejam oferecer mais flexibilidade), buscar novos grupos de pessoas, como colaboradores mais maduros (estratégia que deve ser adotada por 40% dos contratantes) e priorizar a automação de processos e tarefas (plano de 35% dos empregadores). “Com a escassez de talentos se agravando, é importante que as empresas adotem uma abordagem estratégica para garantir que as suas operações sejam eficientes e competitivas. A flexibilidade, a diversidade e a inovação são fundamentais para atrair e reter os melhores profissionais e garantir o sucesso no curto e no longo prazo”, explica Wilma Dal Col, diretora de Gestão Estratégica de Pessoas da ManpowerGroup.

Mercado de trabalho mudou

Apesar da alta de taxa de desemprego no país, atualmente, vários profissionais pedem demissão sem mesmo ter outro emprego em vista. Historicamente, os pedidos de desligamento aconteciam por fatores bem específicos, como busca por novos desafios profissionais e melhor remuneração, mas essa realidade mudou. Hoje, as pessoas estão mais atentas ao equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, ou seja, o salário, item de grande relevância no passado, não é mais o principal atrativo. Segundo Alline de Andrade, gerente de Seleção da Gi BPO, divisão da Gi Group Holding, uma das principais prestadoras de serviços voltados à evolução do mercado de trabalho no mundo, vários fatores podem levar um profissional a desistir de sua posição, ainda que não tenha outra oportunidade em mãos, como ambientes com clima ou cultura ruins, qualidade de vida e liderança inadequada. “Temos uma mudança profunda acontecendo, em que notamos mais pessoas fazendo escolhas que tenham conexão com os seus valores pessoais, especialmente as novas gerações.

Questões relacionadas à qualidade de vida interferem nas decisões de trabalho, especialmente quando falamos de ambientes insalubres, com uma competição exagerada entre os profissionais.” A gerente ainda destaca problemas com a liderança, casos de assédio moral, falta de feedback, jornadas inflexíveis, poucas oportunidades de desenvolvimento e falta de perspectivas de carreira. Entender o momento de vida de cada candidato e as suas necessidades pessoais é mais uma tarefa de quem faz um processo seletivo. “Os jovens, por exemplo, estão realmente escolhendo os postos de trabalho. Desejam ter uma carreira rápida e olham muito para as perspectivas de crescimento oferecidas no momento da contratação, mesmo sem ter a experiência que antigamente era tão valorizada pelas empresas”, explica a consultora e psicóloga organizacional Katya Suely, proprietária da KS Desenvolvimento Humano e Bem-Estar.

Por outro lado, há um contingente de profissionais que estão buscando trabalho apenas para cumprir o tempo que falta para a aposentaria e continuar a ter uma renda após esse período. “Eles possuem experiência, precisam da remuneração complementar e não estão tão focados em galgar altos postos dentro das organizações”, observa a consultora. Cabe, então, ao empresário definir o que é mais adequado para o seu quadro funcional, lembrando que a diversidade de talentos é sempre muito bem- -vinda; afinal, o rol de consumidores de uma oficina ou de uma loja de autopeças também é diverso.

Ao analisar o contexto da falta de talentos, é preciso olhar para as particularidades de cada segmento de mercado. Para a gerente da Gi BPO, a carência de profissionais no setor automotivo pode estar atrelada à rápida modernização dos automóveis, que requer treinamento tanto dos profissionais de vendas quanto dos mecânicos.

“Além disso, há o crescimento das vendas dos seminovos, que aqueceu bastante esse setor e, de acordo com dados da Fenabrave, continuará crescendo. O primeiro trimestre do ano, por exemplo, já apresentou alta de 7,4% em relação ao mesmo período de 2022.”

Importante frisar que o problema atinge todos os setores e não está restrito a determinadas

profissões e cargos. Há tempos especialistas em recursos humanos apontam a falta de profissionais na área de Tecnologia da Informação. Uma pesquisa da Gi Group Holding, realizada no Brasil e outros cinco países (Alemanha, China, Itália, Polônia e Reino Unido), mostrou que, na indústria de manufatura, a escassez de trabalhadores se aplica tanto em relação a profissionais operacionais quanto a trabalhadores com cargo de gestão.

Invista em treinamento

Se está difícil encontrar profissionais prontos, a melhor alternativa é prepará-los para os postos de trabalho. “Contratar profissionais com menos experiência e colocá- -los em uma trilha de desenvolvimento mais acelerada, que pode abranger cursos e até mentorias com os colegas mais experientes, é uma saída. Além disso, algumas áreas têm profissionais aposentados que podem atuar como consultores externos, alavancando os gaps daqueles que não têm tanta bagagem profissional”, aconselha Alline de Andrade. A gerente ainda orienta os empresários a olharem para o potencial de seus talentos internos e inclui-los também nas trilhas de desenvolvimento, uma facilidade de ter profissionais ajustados à cultura e às políticas da empresa.

A forma como o treinamento é realizado faz muita diferença nos resultados obtidos. “A empresa precisa oferecer meios saudáveis de fazer o treinamento, como flexibilizar o horário de trabalho, ter incentivo e engajamento da liderança, ser algo atrativo e dinâmico e ter um propósito definido”, alerta a consultora Katya Suely. Além disso, não deve ser focado apenas em aprendizados técnicos, englobar aspectos da cultura organizacional e ser algo constante dentro das organizações. “Hoje falamos em lifelong learning, ou seja, um processo contínuo de educação. Só assim os resultados do investimento serão duradouros”, completa.

Ambiente saudável

Um dos principais motivos que levam bons profissionais a pedirem demissão é o ambiente de trabalho tóxico causado pela própria liderança. Especialistas chegam a dizer que funcionários não despedem o CNPJ, e sim os seus chefes. Pesquisas têm demonstrado que um ambiente de trabalho desfavorável impacta a motivação e a produtividade dos funcionários, além de ser prejudicial à saúde, resultando em casos severos de estresse, esgotamento, síndrome de burnout, distúrbios do sono, depressão e ansiedade. Em 2021, a Organização Mundial da Saúde contabilizou que a depressão e a ansiedade custaram à economia global cerca de US$ 1 trilhão em produtividade perdida.

“Esse quadro de doenças relacionadas à saúde emocional não é novo, mas a pandemia escancarou o problema advindo do mundo moderno. A exigência por rapidez, alta produtividade e pressão por resultados somada a hábitos de vida não saudáveis, como falta de tempo para a prática de atividade física e má alimentação, aumentaram os casos de depressão, algo que em 2014 o psiquiatra Augusto Cury já havia batizado como o mal do século”, comenta a psicóloga Katya Suely.

De acordo com a pesquisa O Futuro do Trabalho, de 2023, realizada pelo Fórum Econômico Mundial, a relevância de um ambiente de trabalho saudável tornou-se crucial no contexto do mercado de trabalho, sendo que 79% dos profissionais entrevistados consideram o ambiente de trabalho determinante na escolha de um emprego. Além disso, a pesquisa destacou as competências mais valorizadas pelas empresas, levando em consideração as demandas e as transformações tecnológicas, várias delas relacionadas a aspectos emocionais. Entre as cinco principais estão: pensamento analítico, pensamento crítico, resiliência, flexibilidade e agilidade, motivação e autoconhecimento, curiosidade e aprendizagem contínua.

SAIBA MAIS

ALLINE DE ANDRADE – GI BPO

www.gi-bpo.com

KATYA SUELY – KS DESENVOLVIMENTO HUMANO E BEM-ESTAR www.ksdesenvolvimentohumano.com.br

WILMA DAL COL – MANPOWER GROUP

www.manpowergroup.com.br

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