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REMANUFATURADOS

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Com custo mais baixo e menos impacto ambiental, marcas expandem ofertas de produtos com garantia de fábrica.

Houve um tempo em que as peças e os conjuntos remanufaturados eram vistos com desconfiança pelo mercado, que não sabia muito bem como diferenciar um item recondicionado de outro, produzido pelo próprio fabricante, atendendo a exigências técnicas e legais, com total garantia. Com o avanço tecnológico e o poder que palavras como reduzir, reutilizar e reciclar assumiram no contexto de uma economia que pensa cada vez mais de modo circular, o processo industrial da remanufatura ganhou outro status. Prolongar o tempo de vida de um produto de forma ética e responsável passou a ser uma maneira também de reduzir a pegada de carbono, possibilitar para o usuário o reparo de modo mais imediato do veículo e reduzir custos.

Os aspectos positivos são tão racionais e evidentes, que a tendência da remanufatura deve ser uma realidade cada vez mais presente no parque industrial, e não só na indústria automobilística. Antes mesmo de o assunto estar na ordem do dia, fabricantes da cadeia automobilística já ofertavam ao mercado peças submetidas ao processo de remanufatura. As Normas 15.296 e 16.230 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) contribuíram para dar mais confiabilidade ao tema ao pontuar as definições e diferenciações entre peças remanufaturadas, recondicionadas e reparadas. De acordo com as normas, produtos remanufaturados podem ser trabalhados somente por quem detém a tecnologia e marca do produto, o que garante processos de produção confiáveis e homologados.

“Hoje, o mercado já entende o benefício, a confiabilidade, a garantia e a qualidade dos itens, que cada vez mais têm adesão, inclusive até por conta da sustentabilidade.”

Viviane Vedovato, chefe de Trade Marketing na divisão Automotive Aftermarket da Bosch


MEIO AMBIENTE

A ZF atua com embreagens remanufaturadas para a linha de pesados desde 1991 e desde 2016, disponibiliza compressores de ar da marca Wabco no mesmo sistema. O processo emprega técnicas avançadas, como  soldagem, retificação, usinagem e revestimentos especiais, para garantir que a peça seja restaurada às suas especificações originais. De acordo com o gerente de Vendas da ZF Aftermarket, Fabricio Spadine, a remanufatura tem relação direta com a economia circular, já que busca reduzir o desperdício e otimizar o uso de recursos, práticas que estão alinhadas às metas de sustentabilidade da empresa.

“É essencial para que a empresa se torne neutra para o clima. A remanufatura reduz o consumo de energia, o uso de matérias-primas e recursos e, portanto, reduz a pegada de CO2 da empresa, em comparação com a produção de novos produtos.

“Peças projetadas para atender às mesmas
especificações e desempenho das peças originais.

Fabricio Spadine, gerente de Vendas ZF Aftermarket


AMPLIANDO O DEBATE

De acordo com o Relatório Global de Análise de Mer- cado de Remanufatura de Peças Automotivas, as vendas podem chegar a US$ 79,4 bilhões até 2030. Nesse contex- to, alguns fabricantes consolidam estratégias de manter e até de incrementar o portfólio de remanufaturados, o que na opinião de George Rugitsky, do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), se revela como uma medida oportuna. Por meio de seu Comitê de Remanufaturados, o sindicato tem incentivado o debate e fomentado ações relacionadas a esse mercado no Brasil. “É uma tendência global e está plenamente alinhada à sustentabilidade (ESG, sigla em inglês para ambiental, social e de governança)”, diz Rugitsky, que aponta tabus que ainda precisam ser que- brados para o avanço da prática. Um deles é a dificuldade de identificação de uma peça remanufaturada; o outro é a falta de incentivo ou benefício governamental. “Enten- demos que há muita confusão no mercado. Por isso, em parceria com o Instituto da Qualidade Automotiva (IQA), desenvolvemos a Certificação Voluntária de Remanufa- turados. A ideia é que a peça remanufaturada possa ser facilmente identificada, destacando seus aspectos de qualidade e sustentabilidade”.

“A ideia é que a peça possa ser facilmente identificada, destacando-se os seus aspectos de qualidade e sustentabilidade.”
George Rugitsky, diretor de Economia
e Mercados do Sindipeças


TESTES E GARANTIAS

A Knorr-Bremse produz peças remanufaturadas desde 2006. Atualmente, a linha EconX disponibiliza de compressores a cuícas de freio. A logística é bem ajustada: a peça com desgaste, chamada casco é coletada, limpa e inspecionada, e todas as partes de- feituosas são substituídas por novas originais. Depois da remanufatura, é testada nos mesmos processos de uma peça nova e, após passar pelas etapas de pintura, acabamento e embalagem, volta ao mercado com garantia de fábrica com preço até 40% mais baixo.

Jefferson Germano, gerente de Aftermarket da marca para o Brasil e a América Latina, destaca também o melhor custo-benefício para o consumidor, em um cenário de escassez de recursos e necessidade de desenvolvimento sustentável. O executivo acredita, no entanto, que o consumidor final ainda não é bem informado sobre o assunto. “Existe uma falta de conhecimento por parte do consumidor final em relação ao produto remanufaturado”, acredita.

“O produto remanufaturado está totalmente interligado ao nosso Programa Global de Sustentabilidade e alinhado ao ESG.”
Jefferson Germano, gerente de Aftermarket para o Brasil e a América Latina da Knorr-Bremse


LOGÍSTICA É O PONTO

A Eaton, uma das marcas que mais investe na remanufatura de conjuntos para as linhas de veículos pesados, desenvolveu a sua própria solução. Toda a operação de logística reversa é controlada no portal da marca. O sistema oferece monitoramento completo da compra e retorno de caixas de câmbio e embreagens remanufaturadas. Tanto o distribuidor quanto o cliente têm acesso e podem visualizar o trânsito do produto e a volta do casco.

 Fernando Piton, gerente nacional de Vendas-After- market da Eaton, acredita que o trunfo estratégico de um produto remanufaturado é a possibilidade de colocar o veículo em circulação o mais rápido possível. “Uma caixa de transmissão carrega de 200 a 300 itens, o reparo vai de- pender da disponibilidade de alguns ou de vários desses itens, deixando o veículo parado por tempo indeterminado. Optar pela simples substituição do conjunto, com garantia de fábrica do processo e de todas as peças substituídas, faz com que o cliente escolha ter a caixa Ecobox”, explica.

“Além do apelo ambiental, a opção pelo item remanufaturado faz com que o cliente não vá para o recondicionamento não autorizado, colocando o veículo em risco.”
Fernando Piton, gerente nacional de Vendas-Aftermarket da Eaton


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